terça-feira, 1 de setembro de 2009

Cuidado as calorias enganam parte 3 fim

Cuidado: as calorias enganam
Rita Loiola

MADE IN USA As primeiras tabelas de calorias são invenção americana, já que Olin Atwater, aquele químico que descobriu a quantidade de quilocalorias liberada pelos alimentos, era nova-iorquino. Para poupar trabalho, passamos a usar as tabelas gringas, feitas pelos especialistas americanos, para ditar a composição dos alimentos brasileiros. O problema é que nossas frutas têm mais açúcar, nossos vegetais, mais água. E aí a quantidade final de calorias não é a mesma. Isso sem dizer que no cardápio do americano não há farinha de polvilho, coxinha ou feijão-preto.
Mesmo assim, é a partir dessas tabelas que os fabricantes de alimentos estampam o número de calorias no rótulo das embalagens. "Há dois problemas graves com os rótulos: o modo de se calcular as calorias e as tabelas que usamos", afirma Cibele Crispim, nutricionista da RGNutri Consultoria Nutricional. Quando uma indústria coloca o número de nutrientes de seu alimento na embalagem, ela não é obrigada a fazer uma análise físico-química no laboratório para descobrir de quantas proteínas, carboidratos e lipídios seu produto é composto - e, a partir daí, dizer o número total de calorias e nutrientes. A Anvisa estabelece que essa contagem pode ser feita a partir da receita, de acordo com as listas de calorias. E o sistema pode ter erros graves. "No Brasil utilizamos ao menos cinco tabelas para essa contagem, o que pode gerar discrepâncias de até 10% no final", diz a nutricionista.
Desde 1996, o Nepa coordena o projeto da Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, programa que tenta evitar as discrepâncias entre as avaliações e descobrir as calorias e nutrientes dos alimentos brasileiros. O governo federal investe no projeto. Vem dando certo: é a lista mais confiável até hoje. "O ideal seria termos uma tabela com os produtos brasileiros e uma análise precisa das receitas. Cozimento, número de fibras e outros elementos alteram o total calórico e nutricional dos alimentos que vai no rótulo", afirma Cibele.
AULA DE MATEMÁTICASe decifrar o simples número de calorias impresso nas embalagens é uma equação para matemáticos experientes, a boa notícia é que o corpo humano não é uma máquina precisa. E ele não fornece números exatos e iguais o tempo todo.
Em 2002, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) tentou se adaptar aos novos tempos. Chamou um grupo de especialistas para estudar uma mudança nos rótulos dos alimentos, levando em conta os gastos calóricos da digestão humana. Mas a conclusão foi que o custo de tal sistema não compensaria. Stephen Secor, especialista em fisiologia da digestão na Universidade de Alabama, nos EUA, e estudioso do consumo de energia durante o metabolismo animal, afirma que sempre existirão diferenças entre o que está marcado no rótulo e o que o corpo absorve. "As pessoas diferem na quantidade de energia que gastam na digestão e mesmo um novo sistema para quantificar as calorias traria os valores de gastos calóricos para a digestão inexatos. Precisaríamos de muitas experiências para chegar a um número correto", afirma.
Ou seja, uma tabela mostrando a quantidade estimada e a quantidade real de calorias que cada pessoa absorve ainda parece distante. Mas dá para não se deixar enganar pelos valores das embalagens. "Alguém que adora comida crua deve saber que está aproveitando menos calorias que o sugerido no rótulo", afirma Richard Wrangham. "E comidas superprocessadas têm mais calorias que seus equivalentes mais crus." Além disso, exercícios físicos também proporcionam mudanças importantes na absorção dos nutrientes. "Quando a alimentação é variada e há atividade física, a ingestão calórica se torna menos importante", diz Jaime Farfan.
Por enquanto, o problema persiste sem uma solução à vista. As tabelas de calorias continuarão a seguir o velho modelo implantado por Atwater no século 19. E ainda bem distantes da realidade.
EMAGREÇA COM OS FRANCESES
Há muito tempo desconfia-se de que o aumento ou diminuição do peso não é simplesmente um cálculo de calorias. Estresse, modo de vida, falta ou não de exercício físico e até qualidade do alimento podem ajudar alguém a ser obeso ou não. Daí o sucesso de dietas como a mediterrânea, japonesa ou macrobiótica. Um exemplo é o livro Mulheres Francesas não Engordam (Campus/Elsevier, 2005), escrito por Mireille Guiliano, francesa residente nos Estados Unidos. Ela diz que o segredo para não ganhar peso é gostar de comer, e sem estresse, igual aos franceses. Simples assim. "Quando alguém aprende a comer com prazer, com todos os seus sentidos - comer para viver é diferente de viver para comer -, o ato de comer transforma-se em uma experiência, e todo o nosso organismo tende a ir mais devagar, sem estresse", diz a autora, que nunca fez curso de medicina ou nutrição. "Não gosto nem de olhar para os rótulos, eles são tão ambíguos que seria necessário uma enciclopédia para entender os códigos." Por isso, ela recomenda não dar muita bola para as calorias, mas colocar bastante variedade e equilíbrio nas refeições, tomar muita água e fazer algum exercício físico. "Acredito que alguns momentos para si todos os dias ajuda no autoconhecimento, uma chave para a descoberta do que é necessário para estar saudável física e mentalmente."

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